quinta-feira, dezembro 29

Sobre esta coisa de dar prioridade…

Afinal, em Portugal, o bom senso pode comprar-se?
Até há uns dias atrás, uma simples ida ao supermercado tornava-se mais cansativa na caixa de pagamento do que nas compras em si.
Mas, de um dia para o outro o cenário inverteu-se radicalmente: os portugueses mudaram mesmo de atitude!!
Esta semana fui algumas vezes ao supermercado, fazer compras pequenas. Nesta fase da gravidez custa bastante carregar muita coisa ao mesmo tempo. De todas as vezes que me aproximo da caixa ouvem-se logo as pessoas na fila “pode passar à frente”,quer passar à frente?”, “tem prioridade”, e os funcionários que muitas vezes pareciam desatentos às filas, agora estão de olhos bem abertos: “pode passar”, “tem prioridade em qualquer caixa”. Acordaram todos agora, foi?!
Ninguém me pediu opinião, mas sinceramente acho isto completamente RIDÍCULO!!
A primeira vez que entrei no supermercado desde que a lei ameaçou o pagamento de uma multa, a minha resposta para o funcionário foi: “a quantidade de multas que já deveriam ter sido pagas…”.
É verdade. Em todas as idas anteriores ao supermercado, foram imensas as vezes em que as pessoas fizeram de conta, em que os funcionários não quiseram saber, em que pessoas praticamente correram para passar à frente. Felizmente, e para não me chatear, prefiro sempre pensar que elas terão menos tempo de vida do que eu, e por isso, é normal que queiram despachar-se (um pensamento ridículo, talvez, mas o único que permite que não me incomode).

Neste último mês, o cansaço tem sido muito e uma ida às compras é, por vezes, a única coisa produtiva que sou capaz de fazer durante um dia inteiro. Por isso, agradecia que houvesse bom senso desde aí. No entanto, o bom povo português só funciona quando falam em dinheiro. Ah, se corremos o risco de pagar uma multa, vamos lá ficar atentos e cumprir o nosso papel. As multas chamam a atenção de qualquer pessoa. Concorde ou não com a lei, até a pessoa mais matreira é capaz de ficar atenta a quem se aproxima da fila.

É triste, é muito triste que seja necessário este tipo de leis para que o bom senso comece a ser praticado. Digo praticado, porque na maioria dos casos ele continua sem existir. Não é de um dia para o outro que as pessoas mudam os seus valores. Não é um de um dia para o outro que as pessoas começam a preocupar-se com os outros. Não é de um dia para o outro que as pessoas começam a ter em atenção certos grupos, por serem mais frágeis, suscetíveis, o que lhes queiram chamar. Muito menos, é de um dia para o outro que as pessoas deixam de pensar primeiro nelas para pensarem primeiro nos outros. Não venham com tretas, que esta coisa da prioridade deixa-me mesmo muito irritada.

Fico tão chateada com isto, que resolvi partilhar convosco algumas experiências que tive até a semana passada.
As piores de todas passaram-se sempre no Pingo Doce. Aquela caixa prioritária, que mais parece uma caixa de atendimento rápido, raramente teve em atenção o tamanho da minha barriga. Se ela estivesse assim tão pequena, até compreenderia, mas infelizmente não foi por isso que, na maior parte das vezes, fiquei na fila à espera da minha vez! Vocês podem questionar-se: “podias pedir para passar à frente”. Poder até podia. Mas, das vezes que pedi - e só o faço quando estou mesmo cansada -, as pessoas da fila e até os funcionários ficam a olhar de uma forma como se pedir prioridade fosse um exagero, como se pedir prioridade fosse algum facilitismo ou um favor. E, muito sinceramente, prefiro que guardem os favores no bolso, mesmo que a lei me defenda.
O único local onde sempre fui considerada prioritária foi no Lidl. Aí sim, não tenho nada a dizer sobre os funcionários, pois normalmente são eles que chamam para passar à frente.
Sobre o Continente, a minha opinião divide-se entre as grandes superfícies e as pequenas. Nas grandes superfícies nunca tive qualquer problema. Por outro lado, nas superfícies mais pequenas nunca vi sequer a caixa prioritária aberta.
No Jumbo, houve duas situações desagradáveis: uma vez, uma pessoa fez de conta que não me viu, mas a funcionária chamou-me para passar à frente, e ficou resolvido. A pessoa deve ter metido o orgulho no bolso. A última aconteceu no final da semana passada. Para evitar percorrer o supermercado e depois voltar para o lado oposto, onde tinha o carro estacionado, fiquei na caixa mais próxima da saída. O tempo de espera foi tanto, mas tanto, que só não adormeci ali, pendurada no carrinho de compras por sorte!

Enfim… Espero que estas tenham sido as últimas más experiências, quer para mim, quer para quem precisa mesmo da prioridade.
Por isso, um bem-haja a quem se lembrou de falar em multas. Só isso faz com que as leis sejam mesmo cumpridas.

De tudo isto, apenas tenho pena que tenham mudado de atitude, mas os valores continuem iguais.

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